Já lhe aconteceu acordar com o ventre plano de manhã e, mal começa o seu dia alimentar, ficar super inchada e com o abdómen distendido? Sentir que qualquer alimento causa logo irritabilidade digestiva? O intestino estar demasiado activo de forma diária?
Quantas pessoas apresentam este tipo de desconforto digestivo sempre que ingerem algum alimento? Estima-se que entre 10 a 25% da população portuguesa sofra deste síndrome. Fermentação, produção de gases, inchaço abdominal, cólicas, diarreia, obstipação ou alternância entre as duas condições são alguns dos sintomas. Na maioria das vezes, estes processos inflamatórios ocorrem em pessoas com mais stress, ansiedade, doenças autoimunes e outras complicações. Mas os alimentos que escolhem no dia-a-dia têm, sem dúvida, um papel fundamental no controlo e estabilização destes sintomas.

As causas e o impacto do estilo de vida

Estes sintomas não surgem de um dia para o outro. São consequência de agressões alimentares e de estilos de vida irregulares, repetidos ao longo do tempo. Em consulta, recebemos muitas pessoas com este tipo de patologia, que procuramos ajudar através do ajuste de hábitos e estilos de vida que lhes permitam reencontrar o equilíbrio. Mas então, o que fazer? Por onde começar?

Sugiro que escolha, desde o início, um nutricionista com especialização em nutrição clínica e experiência comprovada neste tipo de questões. Será um apoio fundamental ao longo de toda a jornada.

Alimentos a evitar e o papel da alimentação anti-inflamatória

Há várias estratégias que os estudos mais recentes reconhecem como eficazes na abordagem ao síndrome do cólon irritável. Podem ser mais simples ou mais complexas, consoante a gravidade da patologia e as reacções apresentadas.

Devemos começar por estabilizar um plano alimentar adaptado ao estilo de vida da pessoa. Numa primeira fase, podem ser reduzidos os alimentos mais inflamatórios e potencialmente causadores das alterações digestivas. Reduzir alimentos ricos em lactose e glúten pode ser o ponto de partida: leite, queijo e, muitas vezes, iogurtes podem ter de ser substituídos por bebidas vegetais; alimentos com trigo e glúten retirados ou trocados por alternativas como a aveia ou massas de arroz.

Outros alimentos ainda mais nefastos, como processados, gorduras saturadas, álcool, café, devem também ser revistos e reduzidos.

Mastigação, hidratação e cuidados com a digestão

O processo de mastigação deve ser avaliado. Muitas pessoas comem depressa demais e em grandes quantidades. É essencial ouvir o nosso corpo e respeitar os órgãos envolvidos no processo digestivo. Mastigar devagar, fazer pausas e ingerir alimentos em pequenas porções é, por isso, fundamental.

Quando as paredes digestivas estão em desconforto, recomendo atenção a alimentos como kiwis ou morangos — pelas micro grainhas que podem causar irritação numa fase inicial.

Hidratar bem o corpo ao longo do dia é crucial. E sugiro frequentemente a ingestão de chás ou infusões digestivas no final de cada refeição. Cidreira, camomila e menta são boas opções para acalmar a digestão e confortar a mente. Crie o ritual de terminar as refeições desta forma, e sentirá, com toda a certeza, os benefícios.

"Hidratar bem o corpo ao longo do dia é crucial." Dr. Pedro Queiroz

Quando considerar a dieta FODMAP ou suplementos

Muitas vezes, a forma mais imediata de controlar o síndrome do cólon irritável é através de medicação. E, por vezes, pode ser mesmo necessária. Mas, a médio prazo, o que realmente ajuda é mudar as rotinas que levaram ao desequilíbrio.

Uma abordagem muitas vezes necessária em casos mais delicados é adoptar um regime alimentar baseado na dieta FODMAP, que elimina grupos de alimentos e condiciona o que pode ser ingerido. É uma abordagem mais restritiva, mas pode ser essencial em determinadas fases.

Mais do que cortar alimentos, importa criar rotinas alimentares e estilos de vida que nos façam sentir bem, com saúde plena e sustentada ao longo do tempo.

Actuar cedo para recuperar a qualidade de vida

Na saúde, como noutras áreas da vida, só damos valor quando já não a temos. Mas pessoas com esta patologia podem recuperar a sua qualidade de vida e o conforto diário. Para isso, é necessário mudar estilos de vida, afinar hábitos e estabelecer regras alimentares que, de imediato, terão efeitos positivos físicos e mentais.

Se reconhecer alguns dos sintomas descritos, comece a cuidar de si. Quanto mais cedo se actuar, mais rapidamente podemos prevenir a evolução da doença e evitar que se torne permanente. Cuidar hoje e prevenir é o mote que devemos incentivar, para que possa encontrar novas rotinas, afinar a sua alimentação e fazer as pazes com a sua melhor saúde.

Pedro Queiroz é o fundador das Clínicas de Nutrição do Porto e Lisboa e consultor de Nutrição. Mais do que ajudar pessoas a emagrecer, do que ele realmente gosta é de mudar as suas vidas.