
Há poucas experiências tão naturais e, ao mesmo tempo, tão rodeadas de opiniões como a amamentação. Desde conselhos de familiares bem-intencionados até à pressão social sobre o que “é melhor para o bebé”, muitas mães encontram-se no meio de um turbilhão de expectativas – e de mitos persistentes que continuam a circular de boca em boca.
Tudo começa nos primeiros minutos de vida. O contacto pele a pele entre mãe e bebé logo após o nascimento não é apenas bonito, é biológico. Estimula a produção de leite, reforça o vínculo e ajuda o recém-nascido a iniciar a sua primeira mamada de forma mais eficaz. Este momento é uma verdadeira chave para o sucesso da amamentação e lembra-nos que, mais do que técnica, amamentar é também instinto, proximidade e afeto.
A Semana Mundial da Amamentação, que se assinala de 1 a 7 de agosto, é uma oportunidade para regressarmos ao essencial: informação clara, apoio sem julgamento e liberdade de escolha. Reunimos alguns dos mitos mais comuns – e o que diz, afinal, a ciência e a experiência de quem viveu tudo na pele.
Mitos que ainda ouvimos demasiado
“O meu leite é fraco”
Falso. O leite materno adapta-se às necessidades do bebé em cada fase. A sua composição pode parecer mais líquida ao início (o chamado leite anterior) e mais espessa no fim da mamada (leite posterior), mas isso não significa que tenha menos valor nutricional.
Nos primeiros dias após o parto, o corpo da mãe produz o colostro – um leite espesso, amarelado e muito rico em anticorpos, proteínas e vitaminas. É por isso que muitos lhe chamam “a primeira vacina” do bebé: além de nutrir, protege contra infeções e prepara o sistema digestivo para funcionar corretamente.
“Se o bebé mama muitas vezes, é porque o leite não chega”
Falso. Os recém-nascidos têm estômagos minúsculos e digerem rapidamente o leite materno. Mamar com frequência é normal e desejável. É também uma forma de conforto e conexão com a mãe, sobretudo nos primeiros dias.
“Cada mamada deve durar X minutos por mama”
Falso. Não há um tempo ideal. Alguns bebés mamam em 10 minutos, outros demoram meia hora. O importante é observar sinais de saciedade e não o relógio.
“Se estás a tomar medicação, não podes amamentar”
Nem sempre. Muitos medicamentos são compatíveis com a amamentação. O melhor é confirmar com o/a médico/a.
“Dar fórmula à noite faz o bebé dormir melhor”
Falso. Não há evidência de que o leite artificial promova um sono mais prolongado. O sono dos bebés é imaturo por natureza e despertares noturnos são normais, quer sejam alimentados ao peito ou por fórmula.
“O leite materno deixa de ter valor depois dos 6 meses”
Falso. O leite materno continua a ser altamente nutritivo mesmo após a introdução da alimentação complementar. Pode (e deve, se possível) ser mantido até aos 2 anos ou mais, como recomenda a Organização Mundial da Saúde.
Verdades para guardar
Amamentar é natural, mas nem sempre é fácil
As dificuldades iniciais são comuns: pega incorreta, mamilos doridos, subida de leite… e o cansaço acumulado. Apoio especializado – seja de profissionais de saúde ou de grupos de mães – pode fazer toda a diferença. E sim, também é normal sentir-se sobrecarregada.
A amamentação pode ajudar na saúde emocional da mãe
Durante a amamentação, o corpo liberta oxitocina, a hormona do bem-estar. Pode ajudar a reduzir o stress e criar momentos de ligação únicos, mas não substitui o apoio emocional que todas as mães merecem ter.
O mais importante é que a mãe e o bebé estejam bem
Algumas mães amamentam seis meses, outras dois anos, outras decidem não o fazer. O essencial é que estejam informadas, acompanhadas e respeitadas nas suas decisões.
Amamentar também é proteção
O leite materno não só alimenta como protege: reduz o risco de infeções respiratórias, gastrointestinais, otites e até doenças crónicas, como a obesidade e a diabetes tipo 2. Para a mãe, amamentar também traz benefícios a longo prazo, incluindo menor risco de cancro da mama e do ovário.
Ninguém devia ter de amamentar sozinha
O sucesso da amamentação depende muitas vezes do contexto. Profissionais de saúde bem formados, tempo disponível, licença adequada, ambientes seguros e empatia fazem toda a diferença. Uma rede de apoio, presencial ou virtual, pode ser o fator-chave para uma experiência mais leve.
Apoiar a amamentação é apoiar a liberdade de escolha. Nem sempre é uma experiência fácil, contudo pode ser bonita, íntima, poderosa. E acima de tudo, deve ser vivida com informação, com espaço para dúvidas, e sem culpas. O papel da sociedade – profissionais, família, amigos, instituições – é criar esse espaço: seguro, flexível, empático.
Comentários